sexta-feira

O vizinho do lado

Nós nos conhecemos na festinha perto da minha casa, ele tocava violão, andava de bicicleta nas sextas e sorria com os olhos.  Tudo nele era instantâneo, nada forçado ou forjado. Nunca chegamos conversar mais que minutos, mas ele estava sempre comigo. No sofá da sala. No degrau da escada. No cheiro do meu travesseiro.
Eu dormia todo noite ouvindo sua voz, mas ele nunca  - soube que  - cantou pra mim.  Nas letras ele sempre estampava um amor não correspondido. Uma falta de coragem. Aquilo era exatamente o que eu queria dizer. Ele me entendia com a voz, mas jamais seu ouvido saberia disso.
Toda aquele medo vinha da certeza de um amor não correspondido. Ele gostava de uma menina que morava do outro lado da cidade. A menina que trocou o coração por um corpo de plástico. Eu sentia por ele, exatamente o que ele sentia por ela. Mas, eles ainda não se amavam. Eu o amava. Existiam esperanças.
Quando num dia como outro qualquer, cheguei da janela e os vi abraçados. Eles não estavam trocando juras de amor ou se beijando.  Mas eu senti naquele exato momento, o sincero amor nascer. Meu coração queria explodir. Meu cérebro queria jogar o meu corpo na cama e nunca mais levantar. Mas a única coisa que eu consegui fazer, foi fechar a janela, e desejar que ele continuasse tocando e cantando todas as noites, pro resto da vida.